A divulgação antecipada de resultados trimestrais é um bom sinal?

Por que uma empresa listada em bolsa antecipa ou posterga a divulgação de um resultado trimestral? A divulgação antecipada de resultados trimestrais é um bom sinal? E a postergação da divulgação de resultados seria um mal sinal?
Para responder essas e demais perguntas, revisamos algumas pesquisas empíricas que acompanharam variados casos de antecipação e postergação de resultados. Para facilitar o entendimento, vamos por partes:
- Qual a importância das informações trimestrais?
- Por que uma empresa listada em bolsa antecipa a divulgação de um resultado trimestral?
- O que leva uma empresa a postergar a divulgação de resultados?
- Qual a reação do mercado?
- Conclusão
Boa leitura!
Qual a importância das informações trimestrais?
A divulgação de informações trimestrais são de fundamental importância para investidores avaliarem a situação financeira das empresas. Influenciando na tomada de decisão de investimento e permitindo o monitoramento do uso de capital já investido (Beyer, Cohen, Lys e Walther, 2010).
Para auxiliar investidores, a CVM obriga que empresas listadas em bolsa divulguem suas informações trimestrais no máximo 45 dias depois do exercício social. Deixando previsível a época de divulgação de resultados e criando uma espécie de agenda para cada companhia.
O que vamos investigar abaixo é o porquê de algumas empresas, momentaneamente, não seguirem tal agenda.
Antecipação da divulgação de resultados
Por que uma empresa listada em bolsa antecipa a divulgação de um resultado trimestral?
É importante lembrar que a divulgação de resultados é a solução para um problema de informação assimétrica. Antes de deter tal informação, os agentes de mercado possuem menos conhecimento sobre a companhia do que os gestores. Dessa forma, é possível que os gestores usem da antecipação do resultado como forma de sinalização ao mercado.
Em estudo realizado no mercado brasileiro (Vivas, Brito, Ferreira, Ramos, & Costa), avaliaram 5.356 divulgações trimestrais e anuais de empresas listadas na B3, no período entre 2010 e 2016, concluindo que empresas que antecipam seus resultados, tem provavelmente maior chance de trazerem boas notícias.
Um caso de antecipação como forma de sinalização positiva ao mercado foi o da Magazine Luiza em 2016. Naquele período, suas concorrentes varejistas vinham reportando resultados fracos no 3T, o que fez com que as ações da MGLU3 caíssem cerca de 30% em poucos dias. Para reverter a situação, a companhia decidiu antecipar seus resultados:
Após a divulgação, as ações não apenas recuperaram toda desvalorização, como também atingiram novas máximas pouco tempo depois.
Agora, você deve estar se perguntando, o que levaria uma empresa a postergar seus resultados?
A postergação da divulgação dos resultados
O que leva uma empresa a postergar a divulgação de resultados?
As razões para postergar as obrigações podem ser muitas. Na divulgação de resultados não é diferente: Dificuldade de auditoria, novos lançamentos, choques externos, etc. Alguns desses até são legítimos, mas estudos mostram que na bolsa, notícia ruim não chega a cavalo.
No mercado brasileiro (Kirch et al, 2012) resultados apontam que demonstrativos financeiros consolidados com prejuízo, demoram mais para serem entregues. Algo parecido foi observado no mercado chinês, onde verificou-se que quando há a postergação da divulgação de informações financeiras, é provável que o relatório divulgado seja objeto de más notícias (Haw, Qi, & Wu, 2000).
- Demonstração do resultado do exercício: o lucro é realmente tão importante?
Casos recentes na bolsa brasileira corroboram para os resultados desses dois estudos:
- Cogna Educação (COGN3)
Em março deste ano, em decorrência de dificuldades operacionais e restrições à mobilidade, a Cogna Educação (COGN3) resolveu adiar a divulgação do resultado do 4T20. Após a divulgação, verificou-se que a companhia teve um prejuízo de aproximadamente R$589 milhões no período, com um EBITDA recorrente negativo de R$100,5 milhões.
- CVC Brasil (CVCB3)
Outro caso emblemático foi o da CVC, próximo ao pico da pandemia da COVID-19, a empresa decidiu adiar o resultado do 2T20, por conta de problemas com a auditoria. Após a divulgação, verificou-se um prejuízo líquido de R$250,2 milhões, além de uma receita praticamente nula.
O mesmo estudo citado anteriormente (Vivas, Brito, Ferreira, Ramos, & Costa), concluiu que quando uma empresa tem uma má notícia para contar ao mercado, é mais provável que ela adie a divulgação de seus resultados.
Qual a reação do mercado?
Bom, se você acredita ao menos na eficiência semiforte do mercado, espera que novas informações sejam absorvidas instantaneamente, e isso de fato ocorreu quando empresas adiaram a divulgação de seus resultados.
Em estudo de Bagnoli et al. (2002) verificou-se o desempenho das empresas em que a administração ultrapassou a data esperada de divulgação, chegando a conclusão de que os retornos médios nos dias seguintes à data de divulgação originalmente esperada do relatório foram negativos.
Outro caso brasileiro corrobora para esse estudo, em julho de 2020 a IRB Brasil (IRBR3) postergou a divulgação dos resultados do 2T20, levando a uma imediata desvalorização das ações da companhia, saindo da casa dos R$8,05 para os R$7,47.
Para entender melhor, vale a pena ler a coluna do professor Felipe Pontes sobre o caso IRB Brasil.

Fonte: TC Matrix
Conclusão
Os resultados sugerem que quando uma empresa tem uma boa notícia para comunicar ao mercado, existe uma maior probabilidade dela antecipar essa divulgação, logo, provavelmente é um bom sinal. Enquanto que se há uma má notícia para comunicar, há uma maior probabilidade dela postergar essa divulgação. Além disso, temos evidências de que o mercado reage negativamente ao adiamento de informações trimestrais previamente agendadas.
Referências
VIVAS, Anderson Brito; FERREIRA, Felipe Ramos and COSTA, Fábio Moraes da. MÁS (BOAS) NOTÍCIAS E POSTERGAÇÃO (ANTECIPAÇÃO) DE DIVULGAÇÃO DE DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS. Rev. adm. empres. [online]. 2020, vol.60, n.5 [cited 2021-05-20], pp.352-364.
Bagnoli, M., Kross, W. and Watts, S.G. (2002), The Information in Management’s Expected Earnings Report Date: A Day Late, a Penny Short. Journal of Accounting Research, 40: 1275-1296.
Beyer, A., Cohen, D. A., Lys, T. Z., & Walther, B. R. (2010). The financial reporting environment: Review of the recent literature. Journal of Accounting and Economics, 50(2), 296-343. doi: 10.1016/j.jacceco.2010.10.003
Haw, I. M., Qi, D., & Wu, W. (2000). Timeliness of annual report releases and market reaction to earnings announcements in an emerging capital market: The case of China. Journal of International Financial Management & Accounting
Kirch, G., Lima, J. B. N., & Terra, P. R. S. (2012). Determinantes da defasagem na divulgação das demonstrações contábeis das companhias abertas brasileiras. Revista Contabilidade & Finanças, 23(60), 173-186.

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